Mestre Kandiero bate-papo com estudantes sobre cultura afro-paranaense 23/05/2024 - 19:25

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O Mestre Kandiero, um dos mais destacados pesquisadores e ativistas da cultura afro-brasileira, esteve no último dia 14 no Colégio Estadual do Paraná batendo um papo com estudantes sobre as raízes africanas na cultura paranaense.
O encontro foi promovido por equipe docente e alunos e alunas do coletivo preto do colégio.
Kandiero compartilhou seu vasto conhecimento sobre o assunto, promovendo aprendizado e instigando a reflexão entre os presentes.
A visita de Mestre Kandiero ao Colégio Estadual do Paraná foi um marco significativo na promoção da diversidade e da inclusão dentro da escola.
O evento reforçou o compromisso do Colégio Estadual do Paraná com uma educação que respeita e valoriza todas as culturas, preparando os alunos para serem cidadãos conscientes e orgulhosos de suas identidades.
A seguir, uma poesia de Kandiero, publicada em seu perfil no Instagram (@kandieroctba), na postagem em que informou sobre a atividade que realizaria no CEP:
Fala ancestral
Poesia antiga
Contada
Contida
Oprimida
De quem não pode escrever uma linha
Por falta de pena, tinta e papel.
Céu, florestas, montanhas, mar, lagos, rios…
Alforria
Lágrimas de rebeldia
Alegria
Fogo da justiça
A senzala virou cinzas
E nem era quarta-feira
Levantei sacudi a poeira e fui pra rua
Fora da fazenda
Celebrar a abolição
Junto com meus irmãos
Abrimos a porteira e botamos o bloco na avenida
Bloco dos desempregados
Bloco dos sem-terra
Bloco dos sem-teto…
O Bloco do dia seguinte
Era o 14 de maio…
Uma segunda-feira
Sem oferenda…
Sem tamborins, cuícas e bumbos
Livres e sem rumos
Com fome a vadiar…
Vagar
Procurando um lugar para se instalar
Debaixo de uma árvore não é um bom lugar
Mas dá pra descansar…
Vários blocos ainda irão desfilar
Os voluntários da pátria
Os peões tropeiros
Os sexagenários
E os lanceiros negros
O bloco do ventre livre se uniu aos dos menin@s de rua
E vão desfilar em frente à igreja com o bloco dos sem alma…
O bloco “queremos indenização” era só de fazendeiros
Não podia entrar índios e negros…
E a barriga não parava de roncar
Festejar o que?
Minha liberdade nunca foi tirada
Nasci livre… Inocente
Preso em correntes de letras, decretos… Leis
Quem inventou a regra desta brincadeira? Não sei
Já contei de 1888 a 2024
136 anos e contando…
E continuam
Brincando de esconde-esconde
Escondendo nossa história
Camuflando as contribuições
Escondem das crianças negras e índias
Demonizam nossa religião
Será que é por peso na consciência?
Por que querem a negar nossa memória ancestral?
E se o dia 20 de novembro for feriado?
Haverá uma reflexão sobre o que foi a escravidão?
Celebraremos Zumbi como herói nacional?!
Preciso de uma lança
Uma pena
Uma caneta…
E todas as sextas-feiras… Desfilaremos de branco
Em homenagem a nossa consciência negra
20 de novembro será todos os dias do ano
Um louvor silencioso aos Deuses do Pantheon Africano…
Nossos Nkises, Voduns e Orixás
XEU EPA, BABÁ!
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