EU E O CEP ou UM CASO DE AMOR ANTIGO. 31/03/2009 - 16:07

COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ – ENSINO FUNDAMENTAL, MÉDIO E PROFISSIONAL Avenida João Gualberto, 250 – Bairro Centro CEP: 80.030-000 Curitiba – Paraná Tel.: 41 3304-8926 / 41 3304-8933 E-mail: cep@cep.pr.gov.br Site: http://www.cep.pr.gov.br

EU E O CEP ou UM CASO DE AMOR ANTIGO. Na adolescência apaixonar-se é fácil! ....................................................................................................... Quando adentrei ao CEP, um longo caso de amor se iniciava. Aos olhos de uma menina de onze anos de idade, a grandiosidade: o mármore no saguão de entrada, os jardins bem cuidados, a piscina, o auditório, impressionaram-me muito. Estávamos então, na “era” (não geológica) do “exame de admissão”. Alguém já ouviu falar? Você tinha que ser muito bom para passar nesse exame e poder se matricular no famoso Colégio Estadual do Paraná. “Imodestamente” eu era. Na época, estudar naquele colégio, que era considerado um dos melhores do país, inclusive competindo com as poucas escolas privadas que existiam, era um privilégio. E a concorrência então? Era ferrenha! Até famílias muito abastadas encaminhavam seus filhos para essa escola. Havia, veja só, até “cursinhos” que nos preparavam para passar no tal exame. Mas, para a minha alegria no início do ano letivo eu era aluna matriculada na 5ª série. O uniforme, do qual eu tinha orgulho, era composto de blusa listrada de azul e branco, saia de pregas, meias brancas e sapatos pretos. E lá estava eu, no primeiro dia de aula! Radiante, inserida naquele “monstro do bem” chamado Colégio Estadual do Paraná. Envolvida em uma multidão de alunos e perdida nos longos corredores. Mas... o caminho da quadra de vôlei (o meu time chamava-se Garotas Unidas) e da gazeta de aulas eu encontrei logo! Entretanto, o primeiro boletim do ano e os grandes mestres da época – professora Gema, de História (sua elegância e seus relatos de viagens nos deixavam boquiabertas), professores Haydée, Artêmia e Wons que iriam me influenciar na opção futura pelo curso de Geografia, professor Picanço, de Matemática (nunca esquecerei suas divertidas aulas e seu cigarro “fedorento”), professor Alcione Morais de Castro Veloso, de Biologia (com seus minuciosos desenhos de citologia no quadro-negro) – para citar alguns entre tantos outros mestres inesquecíveis – me motivaram a desistir de gazear. E que dizer do coral? O gosto pela música competia com a possibilidade de convivência com o sexo oposto porque, na época, as aulas regulares eram em separado: meninos pela manhã e meninas a tarde. Sempre acreditei que felicidade e amor são coisas que podemos oferecer em gestos e atenção, e isso no ambiente do CEP eu tinha de sobra! Assim, nesse espaço geográfico maravilhoso, transcorreram a 5ª. a 6ª. e a 7ª. séries. No início da 8ª. série minha família muda-se para outra cidade... adeus CEP! Nova escola. No outro ambiente escolar, lágrimas e saudades brotavam sempre... Mas a vida muitas vezes dá voltas e no início do curso científico (hoje – ensino médio), cá estava eu de volta ao Estadual. O Curso Científico da época oferecia três opções de escolha: CB (Ciências Biológicas); CM (Ciências Matemáticas) e CE (Ciências Sociais) como direcionamento para a escolha de uma futura carreira profissional. Minha opção incorreta com influência dos pais? Ciências Biológicas! Vou fazer Medicina, pois afinal, sempre tenho notas altas... Nada a ver com o meu perfil! Além disso, por razões de ordem financeira na família, fui trabalhar durante o dia e estudar a noite. Ao término do ano letivo estava eu novamente saindo do CEP e indo frequentar aulas em outra escola e outro segmento (este por opção própria): o magistério. Mas o caso de amor não acabou aí. Atuando durante algum tempo como professora primária em outras escolas e cursando Geografia na UFPR o sonho de voltar para o Colégio Estadual do Paraná como docente começou a se delinear no coração e na mente. E diga-se: não pelos valores materiais que esta escola apresenta, mas tão somente pelos inúmeros valores imateriais que aqui encontrei por meio da orientação e exemplos de meus professores. Dizem que quem bebe água do CEP sempre quer voltar e saciar a sua sede. E eu fui agraciada com isso. Em 1984 voltei a pisar neste solo e aqui permaneci até 1995 quando então me aposentei, mas, sem me afastar totalmente do magistério continuei ministrando aulas em escolas particulares. E a história da água do CEP? Pois é... retornei novamente em 2002 através de novo concurso público e sendo taxada de “maluca” por alguns colegas. Até quando? Não sei!Apenas sei que cá estou. Novamente caminhando por este espaço que amo e que marcou meu sorriso, delineou minhas rugas e minha história. Sempre tentando repassar uma máxima que aprendi com grandes mestres que por aqui passaram: quando damos algo para alguém estendemos a mão. Quando oferecemos diariamente ao nosso aluno, aos colegas professores ou aos funcionários que labutam conosco, algo além dos nossos conhecimentos específicos como, por exemplo, os nossos exemplos de conduta e ética, entregamos junto um pedacinho de nós para o outro. É um pedacinho do nosso eu que se vai, mas o bem provocado por ele, um dia talvez, consiga transformar para melhor esta escola, este país e o planeta. Hoje, portanto, sou “memória viva” deste colégio. Vivenciei e constatei como professora muitas administrações. Duas indicadas por eleições diretas. Todas elas diferenciadas entre si. Passei por tempos tranquilos e intranqüilos: por greves grandiosas, movimentos estudantis, paralisações rápidas, grandes debates educacionais, alegrias, sofrimentos, felicidade, dores. Presenciei e presencio momentos tristes e inacreditáveis como o conflito com a cavalaria militar investindo contra educadores e nós, retornando às salas de aula, armados apenas com um pedaço de giz, sendo os mais fortes! Observo momentos de paz, com muitos colegas mestres engrandecendo a educação e ensinando que lutar pelos direitos não é sinônimo de indisciplina. Revendo fotos antigas percebo que sou patrimônio histórico deste colégio e mesmo com os erros e acertos de ambos, ainda continuo hoje apaixonada lhe transmitindo aquele amor ardente da adolescência. Mas devo confessar que, ao longo desses anos, desenvolvi a capacidade lúcida do “deixar passar tempestades e aguardar a bonanza”; de acreditar que aquilo que semeamos, embora lentamente, irá germinar. Embora talvez não possamos estar aqui para promover a colheita. Entretanto, ainda que eu possa não estar aqui quando se fizer o tempo da colheita, a certeza de que ela acontecerá é o que me move! Enfim, querido CEP, parabéns pelos 163 anos. Nosso caso de amor continua enquanto eu viver! Profa. Cilé T.T.Ogg - Geografia