CARTA SOCIOLOGIA 23/11/2007 - 11:24

Primeiramente porque “nem tudo o que reluz é ouro” e à Sociologia como ciência cabe ser uma ferramenta de análise do que ocorre efetivamente na sociedade para além dos discursos populistas emocionados e emocionantes. Analisar não quer dizer “doutrinar”, “manipular” ou “pregar” verdades absolutas e se posicionar como a redenção e a solução dos males da humanidade. Embora já tenhamos esclarecido abertamente em sala de aula para nossos alunos nosso posicionamento em face a este movimento, ainda estamos sendo acusados por alguns colegas de estarmos “em cima do muro”, de não sermos de esquerda por não encamparmos um movimento com o qual não concordamos. Cabe lembrar que ninguém precisa ser rotulado como “esquerda” ou “direita” por não participar deste ou daquele “movimento”. Ora, gostaríamos de lembrar que nem todo movimento social é de esquerda, haja vista que o nazismo, o fascismo, os skinheads, a TFP (tradição, família e propriedade), os hooligans e as torcidas organizadas no Brasil, são classificados sociologicamente como movimentos sociais e não são de esquerda. Portanto não necessariamente um professor de Sociologia precisaria estar engajado num movimento promovido por professores conservadores para se afirmar como alguém “de esquerda”, aliás, ser de esquerda também não é um pré-requisito para dar aula de Sociologia. Devemos ter clareza política para fazer a análise do que está acontecendo. Isso significa ter autonomia, ou seja, ser independente para podermos ter a criticidade necessária para analisar não só os erros desse “movimento” como também alertar aos nossos alunos que não se tornem massa de manobra. Por não admitirmos esse tipo de manobra nenhum professor da Coordenação de Sociologia entrou em sala de aula pedindo apoio à professora Madselva ou a este movimento supostamente “revolucionário”. O que ocorre então nesse momento no CEP? Existe uma clara disputa de poder no Colégio Estadual do Paraná. De um lado um projeto conservador e elitista defendido por professores que querem uma escola centrada na autoridade do professor, na disciplina rígida, na competição, que prepare o aluno para passar no vestibular. Um projeto que critica inclusive a permanência e ampliação dos cursos técnicos do CEP, cursos esses que têm como objetivo qualificar nossos jovens trabalhadores para atuar no mundo do trabalho. De outro, um projeto progressista defendido por professores que querem uma escola inclusiva, cidadã, que respeite a diversidade, centrada no aluno, uma escola que reconheça a importância dos cursos técnico-profissionalizantes e a educação como direito universal e não como mérito ou privilégio de alguns, pautada pela autonomia e pela cooperação, que prepare o aluno para a vida. Até aí tudo bem, não há problema em haver dois projetos diferentes, a riqueza estaria exatamente na diversidade de posicionamentos que gera o debate e a disputa política (que também não é negativa). Mas que CEP realmente queremos? O Colégio Estadual do Paraná é um dos melhores colégios públicos do Estado. Como colégio público o CEP deve estar a serviço de uma educação transformadora que se paute pela formação de cidadãos críticos da realidade social em que vivemos. Defendemos que a estrutura do CEP seja o modelo para todas as escolas estaduais do Paraná. O ensino público é uma conquista da classe trabalhadora. A luta pelo ensino público de qualidade é a tarefa de todos nós. No entanto, o CEP é visto como uma escola “de elite”, o que é absurdo, pois o ensino público é um direito. Somos a favor do debate sobre as eleições diretas para diretor como ocorre em todos os colégios no Estado. Da mesma forma não concordamos com os cargos comissionados e achamos necessário defendermos a isonomia (equiparação salarial) entre a direção do CEP e o salário que é pago aos diretores das demais escolas públicas. Assim como somos contrários a testes seletivos para se ingressar num colégio público tornando-o dessa forma “elitizado”. Essas pautas nos moveriam, no entanto, não são elas que movem os líderes desse movimento. O problema que se coloca é que um dos grupos não assume realmente o projeto que defende e situa a discussão no campo do maniqueísmo como se fosse uma luta personalista do bem contra o mal. Os 25 pontos apresentados na carta-denúncia dos professores que defendem esse “movimento” (entre eles a participação num “churrasco”) na nossa avaliação não justificam um movimento “fora Madselva”. Também não entramos em sala em nenhum momento utilizando nossas aulas para promover um movimento Viva Madselva! Qualquer aluno nosso pode confirmar isso. Evidentemente não acreditamos no mito do “sebastianismo”. Se alguém não lembra o sebastianismo foi um movimento místico-secular que ocorreu em Portugal no século XVI como conseqüência da morte do rei D. Sebastião. Por falta de herdeiros, o trono português terminou nas mãos de um Rei espanhol. No entanto, o povo nunca aceitou o fato, divulgando a lenda de que o rei encontrava-se ainda vivo apenas esperando o momento certo para volver ao trono e afastar o domínio estrangeiro. Explorando a crendice popular, vários oportunistas se apresentavam como o Rei oculto na tentativa de obter benefícios pessoais. O sebastianismo foi o primo sociológico do messianismo de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos. Não acreditamos em sebastiões, messias, salvadores da pátria, nem na ressurreição de mortos ilustres. Por isso não achamos que existe uma oposição entre “o bem” materializado na pessoa da professora Malú e o “mal” representado pela professora Madselva, pois isso esvazia e desqualifica totalmente o debate e não nos interessa sociologicamente. Consideramos que críticas à diretora Madselva ou a qualquer outra direção são necessárias e positivas, como, aliás, toda oposição é necessária. Mas a bandeira das eleições diretas não pode ser utilizada como cortina de fumaça para encobrir determinados propósitos. Defendemos um projeto de educação inclusiva, antielitista, com a participação efetiva dos alunos e não com a manipulação destes em favor dos interesses de alguns professores conservadores que se apresentam como uma alternativa “revolucionária” numa disputa por cargos políticos. Podemos até estar equivocados, mas neste momento o projeto que defendemos abertamente é o mesmo projeto que defende a professora Maria Madselva Feiges. Não defendemos pessoas nem paixões. Sentimos muito colegas, mas nossa formação acadêmica nos tornou imunes aos discursos chorosos, emocionados e emocionantes que nos lembram o populismo getulista. “Forças ocultas” não nos impedem de ensinar, não sairemos da cena política para “voltar nos braços do povo”, nem da “vida para entrar na história”, tampouco precisamos de heróis que falem por nós que não somos “fracos nem oprimidos”. Nós os professores da Sociologia não nos identificamos com o pseudônimo Professores do CEP, mas assinamos assim: Eliana Maria dos Santos Jamille Batista Santos Ney Jansen Neto Silmara Quintino - Professores de Sociologia, autônomos e cidadãos-